sexta-feira, janeiro 06, 2006

E tudo por causa de um telefonema...

Esse post começou a ser elaborado a partir de um simples telefonema profissional dado ontem.

Liguei para o Departamento Pessoal de uma das empresas que eu atendo pedindo cópia de um documento para poder fazer um recurso. O rapaz que me atendeu assim me respondeu: "Daqui a pouco eu te dou um feed-back".

Na mesma hora veio na minha cabeça a idéia de um regurgito de bebê, sabe aquele leitinho que volta quando o bebê está cheio? Ou então aquele gostinho desagradável da comida super temperada que você comeu no almoço de ontem e não fez a digestão ainda? Para mim, feed-back é isso. Ou então, em um trocadilho infame, digno do "Ingrêis procêis", feed-back (corruptela da expressão "filho do beque") é o filho do jogador de futebol, muito possivelmente gerado com uma loira oxigenada e reconhecido após um teste de DNA. Exemplo: O feed-back se chama Vandergleison Alberto da Silva Júnior.

Não sei quanto a vocês, mas essa linguagem pasteurizada ISO-9000, me deixa meio mau-humorada. Ainda usando o exemplo aí de cima: por que o rapaz simplesmente não disse: "daqui a pouco eu retorno a ligação" ou "daqui a pouco eu te passo um fax" ou ainda, "já te mando o documento"? Respondo: por preguiça de pensar. É muito mais fácil utilizar meia-dúzia de frases pré-cozidas do que elaborar uma nova, ainda que simples.

Há outras expressões largamente utilizadas hoje em dia e que muito me incomodam. "Estabelecer paradigmas" é uma delas. Que saco isso. Tenho a impressão que as pessoas nem sabe o que estão falando e usam porque soa bonito. "Temos que estabelecer paradigmas". Por cacoete profissional meu, paradigma é, em uma ação onde o objeto é uma equiparação salarial, o sujeito de melhor salário e paragonado é o reclamante, o autor da ação. E ponto final.

Outra expressão que me deixa muito macha é "quero otimizar meu tempo". Que mania é essa de inventar verbos? Otimizar, além de tudo, é uma palavra horrorosa que aos meus ouvidos soa tão pobre quanto a onda de gerundismo que assola nosso país.

Aliás, quer me deixar quicando feito uma bolinha de borracha de tanta raiva é me falar "eu vou estar te enviando", "nós vamos estar retornando" com aquela vozinha profissional meio anasalada. A vontade que eu tenho é responder para o ser "Ah! Muito obrigada. E eu vou estar te mandando para a puta-que-o-pariu. Boa tarde." Provavelmente, a primeira pessoa que falou "eu vou estar fazendo essa merda" foi um pobre-diabo que se achava fluente em inglês e comprou um desses cursos gravados em fitas/cds e fez uma tradução porca. Falou em voz alta, achou lindo o que disse e disseminou essa porcaria do Oiapoque ao Chui.

Vejam bem: minha revolta não é contra as pessoas que falam ou escrevem errado, até porque por mais que a gente capriche e estude, é muito difícil ter uma redação impecável. Também não sou uma purista xiita que detesta estrangeirismos. A língua é dinâmica e todos os dias fazemos uso de alguma palavra de origem estrangeira e isso se traduz em enriquecimento. O que me deixa revoltada é o empobrecimento da língua portuguesa com umas bobagens pré-fabricadas, feitas por e para pessoas com preguiça de pensar, quando há tantas opções melhores no Aurélio Buarque de Hollanda. E olha que eu estou falando da edição de bolso!

E pensar que tudo isso começou com um simples telefonema de rotina ... estou precisando urgentemente de 1/4 de lexotan.

8 comentários:

Anônimo disse...

O pior é que ninguém usa mais o PUTZ !

Anônimo disse...

Duro encarar pessoas que querem mostrar serviço e utilizam a imaginação achando que tá arrasando né? No bom português popular, é foda...

Isis disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

eu estebeleci novos paradigmas para o ano de 2006, alias , quebrei vários e reconstrui...talvez a diferença seja que na minha área paradigmas tem uma conotação diferente!!!!
Amei o texto....tu tá bem heim amiga!!!!Tá precisando é de 1 e 1/4 de lexotan...

Anônimo disse...

O Autor, o autor!!! Eu queria conhecer a mente diabólica que traz ao mundo as frases de efeito, a valorização excessiva e sem critério da neurolinguística, dos gerúndios, das entrevistas de emprego com dinâmicas de grupo modernosinhas...

Juliana A.B.F. disse...

Bem vindos Rapha, meu conterrâneo, e Emília. A Emília, aliás, escreveu (acho que até no mesmo dia) um texto irmão desse meu, com um tom mais bem humorado. "Transmimento de pensação".

Isis, esse texto foi escrito em uma crise de extremo mau humor. No entanto, como a gente não é gente fina o tempo todo, deixo ele aí. Nada contra a palavra paradigma ou seus vários significados. O uso indiscriminado, dentro daquele contexto de RH, daquelas palestrinhas sofríveis, é que me deixa doente.

Unknown disse...

Só 1/4 de lexotan? Eu preciso de 2 e 1/2!!! Na minha época de assalariada do sistema capitalista era desse jeito, mas como o pessoal que trabalhava comigo era foda, a gente não usava gerúndio e muito menos ficávamos devendo uma resposta, não tinha essa de retornar a ligação depois não, era tudo na hora! Odeio expressões de administrador de empresa, e de marketing também. Eu tenho um "job", já ouviu essa? É de foder né!

Anônimo disse...

O maior exemplo desse tipo de gente que pensa que fala bem e faz de tudo para ser "elegante" é o Vanderlei Luxemburgo, ele parece um palestrante, desses bem picaretas mesmo.

Outra coisa, quam fala "job" também fala "print" em vez de pedir uma provinha ou uma impressão, pra mim é viadagem de publicitário de gravata amarela.

negoloiro disse...

sou u cantor negoloiro na batida du nego meu sait www.negoloiro.com.br