quinta-feira, agosto 24, 2006

Interrompemos nossa transmissão...

Descobri uma nova diversão: assistir ao horário eleitoral gratuito. Se bem que não é qualquer horário eleitoral gratuito. Não tem a menor graça assistir à campanha presidencial, ou a de governador, de senador e deputados federais. Essas são muito produzidas, cheias de fru-frus, o Dominguinhos cantando, feitas por publicitários que cobram seu peso em ouro...

Eu gosto é da campanha para deputado estadual. De qualquer partido. Aquelas feitas no fundo do quintal do sujeito.

Deixando de lado a parte triste da coisa - muita gente despreparada concorrendo para um cargo de tamanha importância - o que se vê é uma sucessão de piadas. Parece coisa do Casseta & Planeta. Aliás, para quê Casseta & Planeta se os aspirantes a deputado, sobretudo aqueles de primeira viagem, são tão engraçados?

Começa pelos nomes. Eu não sei como é nos outros Estados, mas eu acho que os candidatos daqui pensam que Minas Gerais é uma roça de dez alqueires. Então, os candidatos se identificam simplesmente com os apelidos, sem mais informações. Carlin, por exemplo. Esse não diz nada, apenas que é o Carlin. Até onde eu saiba, Carlin é o marido da minha vizinha e ele, eventualmente, só é candidato a síndico do prédio. E não se parece em nada com o Carlin da TV.

E tem aqueles que dão mais informações: "Eu sou o Pinduca das "ambulanças". Quem vota em alguém que assim se identifica em tempos de sanguessugas e Planan?

Tem também a Gleida filha do Renatão. Essa é a única credencial que apresenta. Ser filha do Renatão. E roga por meu voto, por esse único motivo. O Renatão. Quem é Renatão? Sei não...

Mas tem um melhor, no quesito de apresentação curricular Não me lembro o nome do sujeito e isso pouco importa, já que ele não diz nada sobre a carreira, a vida, intenções como deputado, se eleito. Sua única plataforma política é sua mulher ser médica da Santa Casa. Isso mesmo. O moço vai lá, põe a cara na TV e diz: "eu sou o fulano de tal, minha mulher é médica da Santa Casa. Votem em mim".

Também acho muito sincero da parte de um outro candidato que informa:"eu e outros tantos jovens mineiros, queremos emprego. Por isso vote em mim". Eu também quero um emprego... de deputada estadual. Será que depois de eleito ( e empregado) ele vai arrumar uma boca na Assembléia para os "outros tanto jovens mineiros"?

Se eu fosse candidata qualquer coisa, eu não prometeria nada. Minha propaganda seria assim: Eu, com meu olhar mais grave para a câmera, dizendo: "Aposentados que enfrentam filas enormes para receber uma miséria de benefício, recém-formados desempregados, estudantes que querem uma universidade melhor, sem-terras, sem-tetos, sem-roupas, sem-nadas. Você, dona-de-casa. Você, pai de família. Vocês, blogueiros e leitores desse blog. É para vocês que eu falo. Conto com o seu voto." Viu? Falei pra uma pá de gente, não prometi nada e todo mundo já está querendo votar em mim.

Mas voltando a campanha eleitoral, o que vale ouro mesmo são os slogans de campanha.

Vai desde aquelas que aparecem em todas as campanhas, tais como "quem promete não cumpre", "Fulano de tal, quem conhece confia" (a cara do tal fulano de tal não é nada confiável, diga-se de passagem), até aqueles novos e inspirados slogans. Querem um exemplo?

O velhinho, bem caidinho mesmo, que aparece na TV, não diz seu nome, só o número e, na maior animação: "Deputado estadual 01010: Esse é o caraaaaaaaa!" Tem também o rapaz que informa unicamente que "tô aí, tô novo e tô animado!". Isso tanto vale para se eleger deputado, como para tentar arrumar uma "mina" hoje para noite. Tem também o que diz: "Sou incendiário e esbravejador" (que meda!)

Mas a melhor, a que ganha no quesito cara-de-pau é: "Tenha pena, vote na Lena!"

segunda-feira, agosto 14, 2006

Dia dos pais com um certo atraso

(Ficou meio pequeno. Creditem isso à minha ignorância internética. Mas dá pra ler. Se preferir, leia a tirinha no endereço http://www.calvinbr.hpg.ig.com.br/frame.htm)

E FELIZ DIA DOS PAIS!

Visitem

Até que eu consiga encontrar a Silvia pelos msn da vida (aliás, cadê você?) para que ela possa me dar uma mão nos links desse blog, resolvi fazer uma merecida propaganda aqui:

O blog se chama Fred Explica e o endereço é www.fredfavacho.blog.uol.com.br. Eu sei, eu sei, o Fred em questão é mesmo o meu cunhado. Pode parecer nepotismo mas não é. O blog dele é mesmo muito bom e vale uma visita e alguns comentários.

E assim que eu achar alguém mais esperto que eu nessas coisas de computador, o link estará ali do lado.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Sotaque

Li esse texto aí embaixo e descobri que, apesar de ter sido criada no Oeste Paulista e ter morado no Pará seis anos, eu sou definitivamente mineira. Ô sotaquinho que gruda, sô! Eu nunca consigo alguma coisa, eu "dou conta de". Eu sempre acho que quando a fila não anda ela "está agarrada". E no momento minha ocupação é "mexer" com o meu blog. O bom é saber que há pessoas que nos apreciam, como o Felipe Peixoto Braga Netto. Amei o texto e divido com meus amigos e amigas, principalmente, amigas mineiras. Aviso: é grande! Mas vale a pena.


Sotaque mineiro: é ilegal, imoral ou engorda?
Felipe Peixoto Braga Netto

Gente, simplificar é um pecado. Se a vida não fosse tão corrida, se não tivesse tanta conta para pagar, tantos processos - oh sina - para analisar, eu fundaria um partido cuja luta seria descobrir as falas de cada região do Brasil.

Cadê os lingüistas deste país? Sinto falta de um tratado geral das sotaques brasileiros. Não há nada que me fascine mais. Como é que as montanhas, matas ou mares influem tanto, e determinam a cadência e a sonoridade das palavras? É um absurdo. Existem livros sobre tudo; não tem (ou não conheço) um sobre o falar ingênuo deste povo doce. Escritores, ô de casa, cadê vocês? Escrevam sobre isto, se já escreveram me mandem, que espero ansioso.

Um simples" mas" é uma coisa no Rio Grande do Sul. É tudo menos um "mas" nordestino, por exemplo. O sotaque das mineiras deveria ser >ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo (das mineiras) ficou de fora?

Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor.

Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.

Mas, se o sotaque desarma, as expressões são um capítulo à parte. Não vou exagerar, dizendo que a gente não se entende... Mas que é algo delicioso descobrir, aos poucos, as expressões daqui, ah isso é...

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode >parar, dizem: "pó parar". Não dizem: onde eu estou?, dizem: "ôndôtô?"). Parece que as palavras, para os mineiros, são como aqueles chatos que pedem carona. Quando você percebe a roubada, prefere deixá-los no caminho.

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs. Digo-lhes que não.

Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço. Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: "cê tá boa?" Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa, é como perguntar a um peixe se ele sabe nadar. Desnecessário.

Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: - Mexe com isso não, sôo (leia-se: sai dessa, é fria, etc).

O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta. Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz:

- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.

Esse "aqui" é outro que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer, olá, me escutem, por favor. É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem "apaixonado por". Dizem, sabe-se lá por que, "apaixonado com". Soa engraçado aos ouvidos forasteiros. Ouve-se a toda hora: "Ah, eu apaixonei com ele...". Ou: "sou doida com ele" (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro). Elas vivem apaixonadas com alguma coisa.

Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de bonitim, fechadim, e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: "E aí, vão?". Traduzo: "E aí, vamos?". Não caia na besteira de esperar um "vamos" completo de uma mineira. Não ouvirá nunca.

Na verdade, o mineiro é o baiano lingüístico. A preguiça chegou aqui e armou rede. O mineiro não pronuncia uma palavra completa nem com uma arma apontada para a cabeça.

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: - Eu preciso de ir.

Onde os mineiros arrumaram esse "de", aí no meio, é uma boa pergunta. Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório. Deixa eu repetir, porque é importante. Aqui em Minas ninguém precisa ir a lugar nenhum. Entendam... Você não precisa ir, você "precisa de ir". Você não precisa viajar, você "precisa de viajar". Se você chamar sua filha para acompanhá-la ao supermercado, ela reclamará:

- Ah, mãe, eu preciso de ir?

No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um tanto de coisa. O supermercado não estará lotado, ele terá um tanto de gente. Se a fila do caixa não anda, é porque está agarrando lá na frente. Entendeu? Deus, tenho que explicar tudo. Não vou ficar procurando sinônimo, que diabo. E não digo mais nada, leitor, você está agarrando meu texto. Agarrar é agarrar, ora!

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará: - Ai, gente, que dó.

É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras.Eu aviso que vá se apaixonar na China, que lá está sobrando gente. E não vem caçar confusão pro meu lado.

Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro "caça confusão". Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele "vive caçando confusão".

Para uma mineira falar do meu desempenho sexual, ou dizer que algo é muitíssimo bom (acho que dá na mesma), ela, se for jovem, vai gritar: "Ô, é sem noção". Entendeu, leitora? É sem noção! Você não tem, leitora, idéia do tanto de bom que é. Só não esqueça, por favor, o "Ô" no começo, porque sem ele não dá para dar noção do tanto que algo é sem noção, entendeu?

Ouço a leitora chiar: - Capaz...Vocês já ouviram esse "capaz"? É lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer "tá fácil que eu faça isso", com algumas toneladas de ironia. Gente, ando um péssimo tradutor. Se você propõe a sua namorada um sexo a três (com as amigas dela), provavelmente ouvirá um "capaz..." como resposta. Se, em vingança contra a recusa, você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: "ô dó dôcê". Entendeu agora?

Não? Deixa para lá. É parecido com o "nem...". Já ouviu o "nem..."? Completo ele fica:

- Ah, nem...>>O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum. Você diz: "Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?". Resposta: "nem..." Ainda não entendeu? Uai, nem é nem. Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?

A propósito, um mineiro não pergunta: "você não vai?". A pergunta, mineiramente falando, seria: "cê não anima de ir"? Tão simples. O resto do Brasil complica tudo. É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem...

Certa vez pedi um exemplo e a interlocutora pensou alto: - Você quer que eu "dou" um exemplo...

Eu sei, eu sei, a gramática não tolera esses abusos mineiros de conjugação. as que são uma gracinha, ah isso lá são.

Ei, leitor, pára de babar. Que coisa feia. Olha o papel todo molhado. Chega, não conto mais nada. Está bem, está bem, mas se comporte.

Falando em "ei...". As mineiras falam assim, usando, curiosamente, o "ei" no lugar do "oi". Você liga, e elas atendem lindamente: "eiiii!!!", com muitos pontos de exclamação, a depender da saudade...

Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo problema, mas um problema. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.

Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão. Se você, em conversa, falar: - Ah, fui lá comprar umas coisas... - Que' s coisa? - ela retrucará.

Acreditam? O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que.

Ouvi de uma menina culta um "pelas metade", no lugar de "pela metade". E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará:

- Ele pôs a culpa "ni mim".

A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas... Ontem, uma senhora docemente me consolou: "preocupa não, bobo!". E meus ouvidos. já acostumados às ingênuas conjugações mineiras. nem se espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: "não se preocupe", ou algo assim. A fórmula mineira é sintética. e diz tudo.

Até o tchau. em Minas. é personalizado. Ninguém diz tchau pura e simplesmente. Aqui se diz: "tchau pro cê", "tchau pro cês". É útil deixar claro o destinatário do tchau. O tchau, minha filha, é prôcê, não é pra outra entendeu?

Deve haver, por certo, outras expressões... A minha memória (que não ajuda muito) trouxe essas por enquanto. Estou, claro, aberto a sugestões. Como é uma pesquisa empírica, umas voluntárias ajudariam... Exigência: ser mineira. Conversando com lingüistas, fui informado: é prudente que tenham cabelos pretos, espessos e lisos, aquela pele bem branquinha... Tudo. Naturalmente, em nome da ciência. Bem, eu me explico: é que, características à parte, as conformações físicas influem no timbre e som da voz, e eu não posso, em honrados assuntos mineiros, correr o risco de ser inexato, entendem?

sábado, agosto 05, 2006

Mau humor

Eu preciso de música boa quando dirijo para poder aguentar os motoristas mau humorados e mal educados de Belo Horizonte. E para isso, no carro têm vários CDs para não ter que arriscar a ouvir rádio e ter uma surpresa ruim, tal como ouvir Marina. Então, vocês podem imaginar a minha tristeza quando eu descobri que o Rafael enfiou no CD Player do carro um CD do Ira! em cima do CD do Queen e agora os dois estão lá entalados A tristeza maior é pelo CD do Queen. O Otto gravou, só músicas bacanas, de uns discos mais antigões... cada vez que eu penso que o CD está lá entalado, dá vontade de chorar). Tentei fazer uma operação arriscada e sacrificar o CD do Ira!, mas só consegui entalar mais os dois. O jeito, então, foi vir para a casa da minha mãe ouvindo rádio. Inconfidência FM, a brasileiríssima!

Eu gosto dessa rádio, toca música bacana, tem o programa do Tuti Maravilha que é bacaninha, tem a música do Milton Nascimento, Profissão de Fé, todos os dias às 18 horas, em substituição à manjada Ave Maria... mas hoje tocava Paulinho Pedra Azul, aquela musiquinha insuportável do bem-te-vi, bem-te-vi, andar por um jardim em flor... E para ficar melhor, Flávio Venturini tocando...Espanhola! E para minha alegria ser completa... 14 Bis. Nem sei porque eu deixei tanto tempo o rádio ligado. É a prova de que esperança é mesmo a última que morre. Quem sabe o Chico desse as caras...

Resultado: fiquei mau humorada e mal educada. E descobri a solução do trânsito de BH: abolir das rádios qualquer sombra de música mineira.