sábado, abril 21, 2007

Fui ao cinema ontem!

Semana passada, lendo a coluna do Frei Betto, n'O Estado de Minas, fiquei sabendo que o filme Batismo de Sangue já estava para estrear. Eu me lembro do bafafá que rolou na época das filmagens, já que o filme foi rodado quase todo em BH mas tinha esquecido que era para agora.

Essa história do envolvimento dos Dominicanos na luta contra a repressão sempre me interessou muito. O período da ditadura foi um dos períodos negros da história brasileira, mas a situação fez surgir heroísmo de onde menos se esperava e esse, talvez seja o caso dos pacatos dominicanos. Já havia lido relatos dos frades, visto documentários, mas nunca consegui ler o livro do Frei Betto que deu origem ao filme. Tinha vontade, mas sempre havia algo para ler antes. Fui deixando.

Então, quando soube que a estréia estava próxima, sai atrás de comprar o livro para tentar lê-lo antes de ver o filme. Aquilo de deixar a mente livre para imaginar os personagens ou associá-los aos reais. Só assim, os personagens da história na minha cabeça não seriam o Caio Blat, o Angelo Antônio, o Daniel de Oliveira... Seriam Ivo, Osvaldo, Betto, Fernando, os reais, aqueles dos documentários e o Tito das fotos. Bom... o livro custa 45 pilas e na mesma livraria eu achei o Grande Sertão: Veredas por 25... preço justo que eu dei com prazer. A fradaiada ficou para outra ocasião.

Mas como meu interesse pela história não diminuiu, não resisti e fui assistir ao filme.

Meu herói sempre foi o Tito. A idéia que eu tenho dele é aquela meio idealizada, das histórias contadas pelos outros frades que, certamente, também o idealizaram. Mas, de todo jeito, um lutador, alguém que não sucumbiu às torturas físicas e psicológicas sofridas nas mãos de Fleury e corja, alguém que amava o país e tentou fazer diferença. E que amava a vida acima de todas as coisas e, talvez por isso mesmo, preferiu se matar a perdê-la. Essa era sua frase, repetida até o limite da pieguice no filme: melhor morrer do que perder a vida. Era um forte. Não entregou os companheiros, mesmo após 3 dias de torturas ininterruptas. Mas longe delas, no exílio entregou-se à saudade e à paranóia. Perdeu sua paz de espírito e sua sanidade à lembrança das torturas e de seu torturador, o Delegado Fleury.

No filme, duas coisas mexeram comigo profundamente: o Caio Blat fazendo o papel do Tito e as cenas de tortura.

O Caio Blat nunca foi um dos meus atores favoritos. Sempre o achei meio pretensioso, meio intelectualóide, meio "sou ser pensante, sou angustiado, sou complicado" (tenho uma preguiiiiiiça disso!)... Mas me rendo, ele é bom ator. E ver o Tito sair da minha imaginação e ser encarnado por alguém que entendeu a magnitude do personagem histórico que interpretava me tocou muitíssimo.

As torturas são pavorosas. E a gente ouve sempre falar que eram mesmo. Sempre alguém que viveu aqueles dias conta de um vizinho, um amigo, um parente que foi torturado, que sumiu... Mas uma coisa é saber que aconteceu e outra é ver aquilo representado com tanto realismo. Chorei de horror.Não dá para ficar impassível principalmente sabendo que não há qualquer exagero naquilo.

E por fim, a curiosidade: boa parte da história se passa em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas a maioria das locações são em BH. Reconheci várias: o Colégio Santana faz as vezes de convento dos dominicanos em São Paulo, o Túnel Tancredo Neves é o Túnel Rebouças e o Frei Betto vai salvar um amigo que mora em São Paulo em um prédio onde mora uma amiga minha. São Paulo é logo ali na Cidade Jardim. Essas malandragenzinhas do Helvécio Ratton, que devem ter barateado muito o filme, não comprometem.

Saí da sala de cinema admirando ainda mais todos aqueles que lutaram pelo fim da ditatura, que não aceitaram as coisas como elas eram, que não se deixaram anestesiar, que lutaram, pagaram com a integridade física, mental ou com a vida. E se eu não encontrar o livro em um sebo, estou seriamente tentada a dar 45 reais lá na Livraria da Travessa.