segunda-feira, novembro 22, 2010

Sobre meus meninos e o show no telhado

Sinceramente... não sei porque esse auê todo por causa do show do Paul McCartney. Nem acho que ele é isso tudo. Na verdade, nem nunca foi tanto assim. Mick não gostava dele. Keith não gostava dele. Me lembro porque eles sempre me diziam isso. Na verdade eles não gostavam do John também. Tinham uma certa simpatia pelo Ringo. Na verdade, eu os apresentei. Ringo é um cara legal.

Fui a um show do McCartney quando ele ainda tocava na banda. Isso foi em 1969. Naquela época, eu era uma artista de vanguarda, com pouco dinheiro e talento duvidoso. Mas era bem gostosinha. Eu vivia em Londres e tinha como amigos mais próximos Mick e Keith. Era um pouco mais velha e experiente que eles. Ensinei muita coisa para eles. Éramos um trio. Eu morava em um sotão no centro de Londres. Era meu cafofo. Eu dizia que era ateliê. Pensando bem, tirando a moldagem dos pênis dos dois e uma escultura de minha gata Angel, eu não produzi muita coisa. Mas estou me perdendo aqui... Bom... onde eu estava mesmo. Ah! Mick e Keith. Eles sempre estavam comigo. Vivemos loucuras. Os três. Ora com um, ora com outro. Ora os dois sem mim. De vez em quanto, tudo junto e misturado. Não me lembro de todas nossas loucuras. Ninguém daquela época se lembra de todas as loucuras que fez. Na verdade, eu usei tantas substâncias naquela vida que eu tenho bad trips em minha atual existência careta.

Bom... mas voltemos ao show da banda do McCartney. Eu era amiga do Ringo. Já contei isso? Cara legal, entrou naquela banda de gaiato, mas sabia aproveitar o que a vida tinha lhe oferecido. Ringo convidou, eu fui. Um lance no telhado da gravadora. Achei bacana o show ser no telhado. Curto telhados. Fui. Levei minha gata Angel. Ela também curte telhados.

Fui também pelas drogas e pela birita. Ringo me pediu pra não levar meus meninos (era assim que eu chamava Keith e Mick), porque poderiam causar problemas. Não contei pros meninos que eu ia. Foi um bom show. Também não me lembro direito, já que rolou mesmo muita birita e drogas naquele dia. Mas me lembro que pensei: 'acho que esses rapazes são mesmo melhores que meus meninos, como andam dizendo por aí'. Dias depois, usei esse argumento em uma briga com o Mick. Ele jogou uma garrafa de wisky na minha cara e eu fiquei sem dois dentes na frente. Fiquei banguela. Eu era chamada de 'a groupie banguela'. Injustiça. Eu não era groupie. Eles é que vinham ao meu cafofo. Eu não viajava atrás eles. A gente viajava junto.

Voltando ao show. Foi bom. Até mais que isso. Foi um show muito bom. Excelente mesmo. Mas não me lembro direito. Já disse que não me lembro direito? Saí de lá com George. Acho que o levei pro meu cafofo. E acho que Keith estava lá. Acho que rolou briga. Ou uma confraternização. Não sei. Nunca me lembro bem das coisas daquela época. Dizem que isso é normal depois que a gente morre.

Um ano depois, ainda sem os dentes da frente, eu morri. Disso eu lembro. Foi em 1970. Meus meninos estavam em turnê. Só me encontraram vários dias depois. Minha gata Angel já tinha comido minha orelha esquerda. Meus meninos fizeram um belo funeral para mim. Foi realmente muito lindo. Teve música, birita, substâncias. Teve gente que transou lá mesmo, no funeral, perto do meu caixão. Eu pedi para alguns amigos fazerem isso. Ato de última vontade. Era o que eu queria: amor, confraternização e loucura. E caixão fechado, porque eu não estava muito bonita de ver.

Pois bem. Nessa encarnação, eu não fui em um show sequer dos meus meninos. Falta de oportunidade, eu acho. E uma coisinha também contribuiu para esse desencontro. Também não fui em show do Paul McCartney. Porque meus meninos não gostavam dele.

Procurei meus meninos nessa vida. Já falei isso? Não? Pois é. Procurei. Lembram do último show deles aqui no Brasil? Eu ia naquele show. Cheguei ao Rio, comprei ingresso e tudo o mais. Só que resolvi procurar por Mick e Keith antes do show. Foi difícil, burlei segurança e tudo o mais. Bom... Mick não acreditou em mim, ficou irado, me processou e hoje eu há uma ordem restritiva contra mim. Não posso me aproximar dele. O mínimo é 5 km. Não posso nem mesmo comprar um ingresso de show dele. É por isso que eu nunca fui em um show deles. Keith, cujo coração sempre foi mais puro, acreditou em mim. Mas também lembrou de meu lance com o George e ficou meio ressabiado. Hoje, a gente troca uns e-mails mas coisas não são mais como antigamente...

O texto acima foi produzido durante a chamada "Operação Marajó", o regime hipocalórico que eu estou sofrendo para poder não fazer (muito) feio nas minhas férias. Creditem os delírios à fome que eu tenho passado. Ou acreditem em tudo. Não me lembro mesmo direito das coisas. Já disse isso? Ah! E eu gosto do Paul McCartney. Nessa encarnação. Apesar de ainda preferir o George. Uh!

3 comentários:

Janayna disse...

Amiga, morro de orgulho de vc!!!!

Isis disse...

arrasô....muito bom nega!!!!

Tio Randas disse...

Sensacional!